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Posts Tagged ‘esporte’

tifosi2Realmente não é lugar comum dizer que os italianos amam o futebol. Os romanos amam a Roma ou a Lazio, os milaneses a Inter ou o Milan, os napolitanos a Napoli, enfim, existem centenas de times de futebol na Itália distribuídos em inúmeras séries do “Campionato Italiano di calcio”.

E esta paixão não é recente. Já os antigos romanos praticavam um esporte chamado “Harpastum”, que era jogado por duas equipes em um campo de areia. Competição viril com disputas corpo a corpo, este esporte tornou-se muito popular e difundiu-se por todo o Império Romano.

calciofiorentinoMais tarde, na metade do século XV o “calcio storico fiorentino” (futebol histórico florentino) deu continuidade ao jogo romano e alcançou tamanha popularidade em Florença, que era praticado nas ruas e praças da cidade e com tanta paixão que muitas vezes gerava conflitos e problemas de ordem pública. Chegou até mesmo a ser proibido em alguns locais da cidade e ainda hoje, pode-se observar em alguns pontos de Florença placas com escritas de proibição ao jogo.

calciostorico5A popularidade do calcio storico fiorentino durou até o fim do século XVII, depois iniciou um lento declínio. Mas o jogo continuou na memória dos florentinos , que continuaram a praticá-lo informalmente nos próprios bairros. O renascimento oficial do jogo deu-se em 1930 e desde então, os quatro bairros históricos da cidade, “i Bianchi”, “i Rossi”, “gli Azzurri” e “i Verdi” disputam um apaixonado e muitas vezes tumultuado torneio todos os anos no mês de junho.

Este jogo, que lembra o rugby, influenciou o futebol moderno, não só nas regras, como também na paixão dos torcedores e no ambiente de festa das partidas. Festa futebolística italiana que um dia eu tive a oportunidade de participar.

Era uma tarde romana ensolarada de 1984, mais precisamente uma bela e especial tarde de 30 de maio, quando a cidade estava colorida de “giallo e rosso” (amarelo e vermelho), as cores da Roma, a “squadra de calcio” (clube de futebol) mais popular da Cidade Eterna.

stadioolimpicoEra dia de jogo e lá fomos nós. No caminho, compramos o nosso lanche, a tradicional “pizza al taglio”e seguimos rumo ao Stadio Olimpico di Roma. Na frente do estádio, mais merendinhas: azeitonas e sementes de abóbora tostadas, que me surpreenderam. Muito boas. Não imaginava.

Finalmente entramos. Estádio lotado com 70.000 expectadores. Os“tifosi” (torcedores) cantando. Um belo espetáculo. Emocionante.

falcãoBrunoContiA Roma entra em campo com os ídolos Bruno Conti e o brasileiro Falcão, mais conhecido como o “Re di Roma” (Rei de Roma). A equipe romana, que havia vencido o campeonato italiano naquele ano, jogava a final da Champions League com o Liverpool.

Partida tensa. No intervalo, os “tifosi” relaxam um pouco e desembrulham as suas merendas. Comemos as nossas pizzas. Uma família de romanistas sentada ao nosso lado nos ofereceu sanduíches. Orgulhosos, eles contaram que eram romanistas há várias gerações e que aqueles sanduíches foram feitos em casa, pela mamma. Naturalmente aceitamos e é claro que eram deliciosos. tifosi1

Infelizmente, a Roma não levou o título. Após um empate de 1X1, perdeu na disputa de pênaltis e os tifosos voltaram tristes para casa. No entanto, sem perder nem um pouco da paixão que os fazem retornar ao estádio, em outras tardes ensolaradas ou frias ou chuvosas, e cobri-lo de amarelo e vermelho para ver a Roma jogar e cantar “Grazie Roma” de Antonello Venditi, um famoso da música italiana e tifoso da Roma, para a qual, compôs várias canções, verdadeiros hinos.

grazie romaOutro romano, Francesco De Gregori, com a bela e sensível “La leva calcistica del 68” fez ainda mais. Uma metáfora sobre as paixões, as lutas e os medos do homem, tendo como protagonistas, Nino, um garoto de 12 anos e as lutas dos jovens da sua geração.

“Nino non aver paura di sbagliare un calcio di rigore

non è mica da questi particolari che si giudica un giocatore.

    Un giocatore lo vede dalcoraggio, dall’altruismo, dalla fantasia.”

“Nino não tenha medo de errar um pênalti 

não é por estes detalhes que se julga um jogador

um jogador se julga pela coragem, pelo altruísmo, pela fantasia.”

Quem sabe se De Gregori, também romanista, quando fez esta canção, pensou naquela tarde de domingo de 30 de maio de 1984.

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